A VOLTA DO DIABO, NO SECULO 21

Essa semana estava lendo uma revista de história editada pela BBC cujo o tema era o cristianismo, um dos artigos mencionava a diferença entre duas imagens do Diabo, uma do século VI a.C. e outra do século XIII. A primeira imagem que se encontra na Igreja de San Apollinare o Diabo está sentado ao lado de Jesus ajudando-o a separar os cordeiros dos bodes (os fiés dos pecadores).
Tal representação faz juz ao nome Diabo “acusador”, ou seja, o resposável por serparar os pecadores dos fiéis. É clara a concepção que os cristãos do século VI tinham do Diabo, concepção mais próxima inclusive do judaísmo, onde o Diabo não possui uma posição central, mas é um mero coadjuvante. Por volta do século XIII o Diabo ganha uma nova forma, é representado com uma estrutura maligna e mostruosa, e passa a ser uma figura central da vivência cristã, ele começa a ganhar esse novo status no novo testamento e durante a formação da Igreja Católica o tema passou a ser cada vez mais recorrente atingindo seu ápice após o século IX. Durante o século XI com os crescentes conflitos de cristãos com mouros, sarracenos, seljucidas e povos do leste Europeu, o Diabo foi imediatamente associado aos elementos estrangeiros que “queriam subverter a verdadeira fé”, dessa forma o Diabo passa de uma personagem sem grande importância para o centro da vida cristã, pois qualquer coisa que ameaçasse abalar a estrutura dos dogmas da Igreja era protamente identificado com o senhor do inferno, criando assim uma justificativa convincente para as perseguições em massa e os genocídios patrocinados pela fé, como a matança dos judeus em 1063, perseguição dos bogomilos em 1143, o extermínio dos cátaros entre 1213 e 1321, pois dessa forma não se matavam pessoas, mas agentes do demônio. Assim para cada problema encontrado pela Igreja o Diabo assumia uma forma. A imagem mais clássica que possuímos do Diabo é aquela com pés de cabra e chifres, quase que um clone de pã, criatura mítica associada ao sexo, e é exatamente no mesmo período em que a Igreja começa seu combate contra a sexualidade, em 1486 é publicado o Malleus Maleficarum que anuncia que toda a bruxaria vem da lúxuria, lascividade insaciável das mulheres, que por sinal foram o principal alvo da inquisição, sendo principalmente acusadas de manterem relações sexuais com o Diabo e seus auxiliares em troca de seus poderes maléficos.
É

a partir do momento em que o controle social passa a ser o centro das atenções da Igreja que o Diabo ganha sua forma de monstro, torturador e responsável pelas más ações das pessoas. A visão infernal de

Boschhttp://fragmentosculturais.files.wordpress.com/2008/05/bosch-goed.gif demonstra muito bem a ligação entre o Diabo, a Igreja e a sexualidade. Portanto há três imagnes do Diabo: 1- o auxiliar que separa os pecadores dos fiéis, 2- o inimigo que inspira a fé e une os cristãos para lutar, 3- o mostro que espalha o medo e o terror na terra. A Igreja transformou um mero ajudante em o senhor do mal apenas para suprir suas necessidades políticas.

Após o século XVIII a popularidade demônica decai paulatinamente assim como a influência da Igreja.

Mas eis que ele ressurge!

Com o crescente movimento daquilo que chamo de neo-protestantismo a popularidade do Diabo ressurge como na idade média. Assim como a Igreja Católica usou e abusou da imagem do Diabo para se fortalecer, as novas igrejas cristãs também o utilizam, é nítida a importância dessa personagem para a sobrevivência e desenvolvimento dessas igrejas, pois ele é o ator principal dos cultos e das pregações, são os shows de exorcismo, a permanente luta dos fiéis contra sua insistente presença que atraem milhões de seguidores a cada ano, sem ele esse movimento não teria força alguma, pois é o contato com o sobrenatural que confere a autenticidade da crença, assim como conferia para as pessoas da idade média. Assim com a Igreja Católica utilizou do Diabo para exterminar todos e tudo que contrariasse seus dogmas, as novas igrejas também o utilizam para apontar o inimigo a ser perseguido e combatido é só prestarmos atenção no que dizem muitos pastores por aí: vejam o homoxessualismo é do demônio, o álcool é do demônio, o espiritismo é obra do demônio, a T.V. é do demônio, a informação é do demônio, mas a ignorância é de Deus, se tornem ignóbeis e sejam salvos!

Pois é, os anos passam, muitas coisas mudam, e outras coisas voltam, pelo que tudo indica o Diabo já voltou, e com força total, apenas mudou de casa.

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