Saindo fora do tema blog para abrir espaço a literatura de contos de horror



O LOBISOMEM, CONTOS DE HORROR



Á la vão muitos anos… Sabe-se lá… talvez séculos!… Pelas ruas de Segura, a desoras, nas intermináveis noites de inverno, surgia estranho ser em desordenado tropel que a todos amedrontava.

à sua aproximação, mesmo os mais animosos, sentiam levantar-se os cabelos!… Sol posto, já ninguém saía à rua. E o alegre povo raiano sofria e passava um verdadeiro castigo.

Um dia, um mocetão, valente e destemido, tomou a resolução de averiguar a causa de tão extraordinário fenômeno.

E colocou-se entre o postigo e a porta da casa de seus pais.

Chovia a potes,

O vento era medonho com os seus estridentes jussobios. Parecia impelido pelo demo.

E o mocetão, valente, firme em seu posto, espetou uns momentos; o bastante para se enregelar.

O tropel não se fez esperar e uma sombra negra surgiu.

As pedras da calçada chispavam lume. sombra horrenda resvalava pelas valetas, escoucea va para um e outro lado, fazendo que as próprias ombreiras dos portados deitassem lume.

E o rapaz, agora um tanto assustado, colou-se bem à porta. Parecia petrificado!

O estranho fenômeno avançava cada vez mais em correria vertiginosa, e o rapaz, embora, como se disse, um tanto amedrontado, pôde verificar que se tratava de um monstro horrendo, metade cavalo. metade homem, ferrado de pés e mãos! Estava quási a arrepender-se da sua temeridade!…

Mas, o monstro, seguindo seu caminho, desa pareceu…

Que fazer depois do que vira?

Calar-se ?

E se contasse tudo a pessoas experimentadas sabedoras e consideradas pela sua idade e saber?

Procurou de fato um dos homens mais idosos da sua terra.

E expôs-lhe minuciosamente o que vira.

E o bom velho respondeu-lhe:

— O que tu viste, meu amigo, é um encanto que só se desfará, se alguém tiver coragem de, es condido atrás de uma das cruzes das ruas da nossa aldeia e munido de uma vara com aguilhão, picar o monstro por forma que o faça lançar de si muito sangue.

— Pois deixe o caso comigo. Se aí está o medio… picá-lo-ei eu mesmo, respondeu o rapaz.

— Pois então, toma cuidado, que, se o não pi cares bem, grande perigo corres!…

O rapaz, forte e valente, como se disse, dis posto a dar mais uma prova do seu valor e a livrar a povoação de tão grande desassossego, logo que anoiteceu, recolhidos todos os moradores e fechadas todas as portas, foi colocar-se, por entre vendaval formidável, atrás de uma das cruzes, tendo bem apertada na mão direita forte vara de grande aquiilhão.

Começou a ouvir-se o tropel, pondo-se em breve à vista a infernal figura. O rapaz tremia!

Perdera quási a noção de si mesmo! Fugir?

Bem se lembrava êle do conselho do velho: — Toma cuidado, que se o não picares bem, í/rande perigo corres!… Recobrou ânimo.

Estava ali para vencer ou morrer! Já agora levaria ao fim a sua empresa. Esperou! O monstro avançava a todo o galope.

E passou; e, na passagem, o heróico mocetão cravou-lhe bem a grande aguilhada!

E o monstro, como por encanto, desapareceu. O valente moço respirava; mas tremia ainda. O seu coração batia desordenadamente. Foi-se deitar, mas não podia conciliar o sono. Que iria suceder?

Passaram algumas noites e o tropel não mais se ouviu.

— Que estranho fato se terá passado? inqui ria a povoação.

O rapaz (ninguém sabe até onde vai o poder de encantos e bruxarias) contara o seu feito, muito em segredo, só aos mais íntimos.

Passaram dias e passaram noites, e a povoação, de segredo em segredo, veio a saber o que se passara.

E perguntava:

— Mas que figura seria, essa, horrenda e disforme ?

— Seria um lobisomem?

— E quem seria o infeliz?

Passaram ainda mais alguns dias, até que um dos mais considerados moradores de Segura, que havia desaparecido do convívio da povoação, apareceu sem um dos olhos.

Se êle era são e escorreito, se não constara na povoação qualquer desastre, como e onde perderia êle a vista? — perguntavam todos os moradores de Segura.

Fora, evidentemente, o rapaz da aguilhada!. . .

E o povo passou, desde logo, a afirmar como verdade incontestável que o monstro, semi-homem e semi-cavalo, que tanto o incomodara, era por artes do demo ou mercê de encanto, o bom homem que aparecera sem um dos olhos.


Conto de Horror 
Comendador Rafael Alves de Almeida
Participação 
Contos de Kira

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